Newsletter do Fórum Hospital do Futuro | 4/2025 (mensal) Abril 2025
Por Paulo Nunes de Abreu, co-fundador Digital Health Portugal e Fórum Hospital do Futuro (subsreva no LinkedIn)
Ficha Técnica
O Fórum Hospital do Futuro é uma publicação mensa inscrita na ERC nº 128077
Periocidade: Mensal
Diretor: Paulo Nunes de Abreu, co-fundador Digital Health Portugal,
Mordada da Redação/Editor: Viela da Fonte, 2, 2710-694 Sintra
Durante o fim de semana da Páscoa de 2025, dez urgências hospitalares estiveram encerradas em Portugal, sete das quais nas áreas de obstetrícia e ginecologia. O epicentro do problema voltou a ser a região de Lisboa e Vale do Tejo, onde a escassez de médicos especialistas é mais crítica. É uma notícia que volta a ocupar os noticiários nacionais, mas que corre o risco de se normalizar.
E no entanto, o que falta não são apenas médicos. Verificamos que falta igualmente uma abordagem de resolução do problema com a participação e envolvimento estruturado de todos os envolvido (incluindo as pacientes) para resolver este problema com profundidade.
Foi com esse espírito que desenhámos o processo do Think Tank SNS de Contas Certas ao longo dos últimos anos: um espaço colaborativo, independente e estruturado, que permite pensar os grandes desafios do sistema de saúde com tempo, com método e com todas as vozes à mesa. A nossa metodologia inspira-se na abordagem da Think Tank Factory [1], onde a inteligência coletiva e a diversidade de perspectivas são mobilizadas para cocriar recomendações viáveis, com impacto político, institucional e social.
O sucesso da realização do IV Plenário do Think Tank SNS de Contas Certas, nos passados dias 3 e 4 de abril, demonstrou a importância de criar espaços estruturados de escuta, onde decisores e representantes locais puderam trabalhar em conjunto para gerar recomendações construtivas e realistas. As retransmissões dos principais momentos serão disponibilizadas na primeira semana de maio, permitindo ampliar o impacto do que foi debatido e cocriado.
Está claro, por parte das autoridades e dirigentes hospitalares, que não falta vontade para resolver o problema. Desde que o atual governo tomou posse, em 2024, foi lançado um esforço abrangente para enfrentar estas dificuldades, nomeadamente através do Plano de Emergência e Transformação na Saúde, composto por 54 medidas estruturadas em cinco eixos estratégicos. Esse plano já trouxe resultados visíveis, como a redução de listas de espera oncológicas, a criação de novas linhas de apoio e incentivos para reforçar partos no SNS.

Contudo, apesar destes avanços, o que frequentemente continua a faltar é um processo seguro e colaborativo onde essa vontade e essas medidas possam transformar-se em respostas mais afinadas com a realidade dos territórios, com base na representação, na evidência e no envolvimento de todos os stakeholders — incluindo as pacientes.
E se esta mesma abordagem fosse aplicada ao problema das urgências hospitalares?
Imaginemos um ciclo de três plenários colaborativos, reunindo decisores da Direção Executiva do SNS, administrações hospitalares, ordens profissionais, sindicatos, autarquias, universidades, instituições privadas e, crucialmente, usuárias do sistema, particularmente mulheres e mães que vivem na pele as conseqüências do encerramento das urgências. Que resultados poderíamos gerar? Que caminhos de compromisso público poderíamos abrir?
A resposta pode ser simples: a ausência deste tipo de abordagem não é por falta de diagnóstico, mas por falta de espaços seguros para lidar com o conflito, para escutar o que incomoda e para trabalhar no “entre” das posições divergentes.
A metodologia Think Tank, tal como a aplicamos no SNS de Contas Certas, tem um diferencial fundamental: ela não parte da solução, parte da conversa. E uma conversa bem desenhada, com tempo, representação e escuta profunda, pode abrir estradas onde antes só havia muros.
Que tipo de soluções poderiam emergir de um Think Tank nacional sobre as urgências?
- Modelos híbridos de escalas regionais com incentivos coordenados entre hospitais e a Direção Executiva;
- Criação de redes colaborativas de obstetrícia e pediatria com referência partilhada;
- Envolvimento direto de utentes na reavaliação da experiência de acesso à urgência;
- Propostas de alteração legislativa que flexibilizem regimes de prestação de serviço em feriados prolongados;
- Novas formas de contrato programa para as urgências que valorizem não apenas presença, mas continuidade e prevenção;
- Planos de atração e retenção de especialistas com base em qualidade de vida e estabilidade contratual;
- Simulações participativas para reorganização da rede assistencial com base em dados de mobilidade, partos e morbilidade local.
Por isso, mais do que divulgar conclusões, este editorial é um convite e não a uma crítica. Trata-se aqui de lançar uma proposta construtiva – a realização de um Think Tank Nacional sobre as urgências no SNS.
A emergência das urgências exige coragem para experimentar abordagens novas, com base no diálogo e na colaboração.
Se há vontade política, capacidade técnica e medidas já em curso, então por que não dar uma oportunidade a um processo estruturado de escuta e cocriação? Um Think Tank nacional sobre as urgências poderia complementar e enriquecer o que já está a ser feito — aproximando ainda mais as decisões das realidades locais e das experiências concretas de quem vive, trabalha e cuida dentro do SNS.
Começamos pelo SNS de Contas Certas. Mas poderíamos ir mais longe.
[1] Abordagem Think Tank Factory: O Think Tank SNS de Contas Certas, Saúde Sustentável é produzido pela Debate Exímio Lda. No centro da nossa abordagem reside uma Metodologia de Liderança de Pensamento que utiliza a inteligência coletiva para criar ideias inovadoras e insights práticos. Mais informações (em inglês).